
Jornalista há 28 anos, a maioria deles dedicados ao esporte, cobriu as Copas do Mundo de 1998 (França), pelo Notícias Populares, e 2006 (Alemanha) pelo Diário Lance!, onde foi editor-executivo. Sete anos como comentarista e editor-executivo na ESPN Brasil, tendo participado da cobertura da Copa do Brasil (2014) e da Olimpíada do Rio-2016 pelo canal.
Fadinha, Simone Biles e a pressão que destrói um mundo de diversão

Todo atleta, por mais azarão que seja, vai aos Jogos Olímpicos com o sonho de ganhar. Nem que seu desejo fique restrito às suas conversas secretas com o travesseiro no escuro do quarto. E nem que "ganhar" seja superar seus próprios limites.
Se a Olimpíada fosse apenas um desfile de atletas demonstrando suas capacidades, não haveria pódio nem medalha.
Mas a modalidade skate e particularmente a brasileira Rayssa Leal colocaram tudo isso de cabeça para baixo. A Fadinha medalhista de prata encarou a competição como uma brincadeira (tem sentido, afinal ela é quase uma criança.
Rayssa falou abertamente que estava lá para se divertir e fazer o que gosta. Torceu para as rivais, fez até dancinha no Tik Tok com uma delas. Perguntada se foi mais difícil encarar as rivais do que o calor em Tóquio, não teve dúvida: "o calor!". Até porque nem parecia encarar as adversárias como tal. Enquanto o torcedor brasileiro torcia nas redes sociais para as estrangeiras caírem do skate, Rayssa torcia junto delas.
O conto de fadas da Fadinha provavelmente termina aqui. A partir da medalha de prata sua vida será outra. Se por um lado muitas portas vão se abrir, por outro ela não será mais a menina de Imperatriz no Maranhão, mas a medalhista brasileira. Em Paris, nos próximos Jogos Olímpicos, a pressão por mais uma conquista será imensa e ela não terá mais 13 anos para encarar tudo apenas como um rolê de skate.
A jornada leve da Rayssa contrasta com o peso sentido por Simone Biles, o fenômeno americano da ginástica. Certamente cobrada por todos os lados para repetir ou até melhorar o desempenho que teve em 2016 no Rio de Janeiro, ela sucumbiu. Foi mal em algumas provas e por fim desistiu de outras. Seu problema não foi físico, mas mental, como ela mesma admitiu.
Em 2013, Simone surgiu para o mundo no mundial de ginástica de Antuérpia. Após conquistar a medalha de ouro disse: "O segredo é me divertir".
A vida de fadinha para Simone Biles caminhava para o fim naquele ponto. Desde então foi cobrada por resultados e entregou muitos, como os quatro ouros e um bronze na Olimpíada do Rio em 2016. Desta vez, não conseguiu.
Ela deve ter saudade de quando tudo era uma grande diversão.