
Acredita no poder de contar uma história e que se for possível fazer a diferença para uma única pessoa, terá cumprido o seu papel. É formado em Jornalismo e tem especialização em Mídias Sociais. Atualmente no Bandsports, conta com passagens pela TV Band, ESPN, Olimpíada Todo Dia e Gazeta de Santo Amaro.
Brasileiros pelo Mundo
Cicinho, o brasileiro que sonha com uma Copa pela Bulgária

A Bulgária não fez uma boa campanha nesta edição da Liga das Nações. Após seis partidas, a equipe acabou na lanterna do Grupo 4 da Liga B, que seria a segunda divisão, e terá que jogar novamente a Liga C em 2022. A campanha foi ruim, é verdade, mas a menção se faz necessária, pois o destaque desta semana da coluna estreou pela seleção europeia justamente na competição.
No dia 6 de setembro, em partida contra o País de Gales disputada na cidade de Cardiff, Neuciano de Jesus Gusmão, conhecido como Cicinho, vestiu pela primeira vez a camisa alviverde da Bulgária.
“Fazer parte da seleção e defender o país é um orgulho muito grande”, conta o lateral de 31 anos. Ele se tornou o quarto brasileiro, mas o primeiro defensor, a representar a nação do leste europeu. Antes dele, Marquinhos, Marcelinho e Wanderson já haviam sido naturalizados em um movimento que começou ainda nesta década.

Passagens em times de três regiões do país até chegar ao futebol paulista
Apesar da idade, Cicinho não foi um jogador de muitos clubes no Brasil. Natural de Belém, o rápido e ofensivo lateral foi revelado pelo Remo, um dos grandes do estado paraense. Alguns poucos anos no profissional e dois títulos estaduais foram suficientes para o jogador rumar para o sul, onde defendeu o Juventude.
Por lá fez poucos jogos e logo recebeu uma oferta para atuar pelo Brasiliense em 2010. Em pouco tempo este seria o terceiro clube de uma região diferente do país, mas que para o jogador não tinha muita diferença no futebol.
“A diferença é o nível do campeonato, mas é um futebol que se tem muita improvisação e jogadores de qualidade que vão subindo degrau a degrau até chegar em um clube diferente”, explica.
A boa fase individual somada a um título estadual e uma campanha mediana na Série C foram suficientes para que ele chamasse a atenção da Ponte Preta e fosse contratado ainda em 2012.
O time campineiro seria o clube ideal para Cicinho se mostrar e ele chegou a atuar inclusive mais à frente do que na posição de origem. Novamente, o bom jogo chamou a atenção de diversos clubes do país, inclusive com uma disputa entre Santos e São Paulo. O alvinegro levou a melhor e contratou o jogador em 2013 e ele permaneceu no clube até 2015.
“Eu passei duas temporadas no Santos e foram proveitosas. No primeiro ano fomos vice paulistas e no segundo ano fomos campeões. Depois dessas duas temporadas teve a proposta de jogar aqui na Bulgária e foi em uma época que o Santos estava em crise e precisava vender jogadores”, relembra.
Para quem jogou em algumas das regiões do país, a proposta do Ludogorets Razgrad e a possibilidade de jogar a Liga dos Campeões foi como um sonho.
Time ‘brasileiro’ e supremo na Bulgária
Na chegada ao futebol búlgaro, Cicinho encontrou uma situação muito positiva. O Ludogorets já reinava na Bulgária e contava com muitos brasileiros que ajudavam a manter essa hegemonia.
Contudo, não foi sempre assim. Fundado em 1945 e com algumas trocas de nome ao longo do tempo, o time era tido como pequeno até a chegada do atual dono do time Kiril Domuschiev, um magnata do ramo farmacêutico e que sonhava em desenvolver um modelo de jogo em uma equipe do país que se tornasse vencedora.
Definitivamente é possível dizer que deu certo. Desde a temporada 2011/2012 o time é campeão nacional e ainda conquistou duas Copas da Bulgária e quatro Supercopas, além de participações frequentes na Liga dos Campeões e Liga Europa.

Os motivos de tanto sucesso se devem aos altos investimentos feitos pelo dono, além de uma predileção em reforçar o time sempre com atletas brasileiros, como no caso de Cicinho. O clube já chegou a ter nove jogadores nascidos aqui.
“O presidente gosta de jogadores brasileiros e os que vieram aqui sempre representaram o futebol brasileiro. O Ludogorets é conhecido por jogar um futebol bonito e ofensivo”, revela.
Cicinho completou cinco temporadas e já entrou em campo por mais de 150 partidas, o que o deixa entre os 20 jogadores que mais jogaram pelo time. Na última temporada, Cicinho ajudou o Ludogorets a vencer o nono título nacional consecutivo e o quinto dele. Os bons números e o tempo no clube contribuíram para que fosse lembrado.
Seleção: sem medo de racismo e parte da renovação
Depois da estreia, Cicinho já representou a seleção da Bulgária por cinco vezes. As convocações foram de um velho conhecido, o técnico Georgi Dermendzhiev, que foi quem trouxe Cicinho em 2015 para defender o Ludogorets.
“O treinador eu já conhecia, é competente e levou o clube aqui (Ludogorets) para a Champions League, tem quatro ou cinco títulos seguidos. Ele já tinha levado outros brasileiros, no caso o Wanderson e o Marcelinho”, fala.
Mesmo tendo outros três brasileiros que defenderam a seleção, há um ponto que poderia representar uma preocupação para o jogador que é a questão do racismo, mas ele se sente tranquilo. No ano de 2019, em partida contra a Inglaterra, torcedores fizeram gestos nazistas e imitaram macacos em ofensa a jogadores ingleses.

“A Bulgária toda repudiou aquele grupo de torcedores e comigo nunca aconteceu, graças a Deus. Os brasileiros do Ludogorets são muito respeitados aqui até pela construção do clube, pois trouxe mais visibilidade ao futebol búlgaro”, salienta.
Aliás, mais visibilidade é o que Cicinho busca para o país agora que defende a seleção. Desde 1998 a Bulgária não se classifica para uma Copa do Mundo e ainda vive com a campanha histórica da geração de ouro comandada por Hristro Stoichkov, que terminou a Copa de 1994 na quarta colocação.
“Realmente faz muito tempo que a seleção não classifica. Eles estão reformulando e tem muitos jogadores jovens e de qualidade sendo chamados. É claro que necessita de um tempo, mas eles vão formar outra vez uma seleção muito forte e eu acredito que em breve poderá voltar a disputar uma Copa do Mundo”, finaliza.